Liderar de olhos postos na superação
“A Europa e os desafios da liderança” foi o mote para ouvir Vicente Del Bosque e Beatrice Covassi, no Rotary Talks de janeiro. Liderar, na política internacional ou no futebol, implica estratégia e superação de desafios.
Como primeiro convidado, Vicente Del Bosque, antigo jogador e treinador do Real Madrid e ex-selecionador espanhol, campeão do mundo e da Europa de futebol, assumiu que “o sentimento de pertença e fidelidade” adquirido pela longa carreira ao serviço do mesmo emblema. Sobre os desafios da liderança, Del Bosque apontou o facto de em “25 jogadores só 14 poderão jogar”. “Esse é o desafio dos treinadores, o de manter a competitividade e empenho no plantel, que se sintam parte da equipa, mesmo sem jogar. Os jogadores devem ser inspirados, primeiro pelo exemplo. Uma boa relação é imprescindível”, disse. A modalidade é, de resto, “uma ferramenta extraordinária para os jovens se transformarem em melhores pessoas porque a profissionais chegam muito poucos”. Com vários troféus conquistados e um currículo notável, o ex-selecionador revelou que têm uma ideia errada da sua postura enquanto líder. “De mim, dizem que sou boa pessoa, muito brando. Bem, a bondade não é defeito, e sou muito exigente. Identifico-me com os Rotários, pessoas que tendem a procurar uma sociedade melhor. Quando és generoso com os outros é quando te sentes verdadeiramente bem.”
Do desporto para a política europeia, Beatrice Covassi, alto quadro da União Europeia destacada para o Reino Unido, alegou que o futuro passa por enfrentar “dois grandes desafios”. Primeiro, o da comunicação, procurando ser mais positivos na mensagem a passar e assumindo que o digital transformou a forma de comunicar, e depois o da soberania. “A Europa tem de ter uma verdadeira liderança. Começámos a mostrar liderança e união com a pandemia, mas estamos ainda longe da liderança mundial”, afirmou.
Retida em Portugal, país onde reside, e impedida, por agora, de viajar para Londres, onde vai assumir funções, explicou que, ao contrário do futebol, “é muito difícil alguém se sentir fiel à Europa”, embora assuma sentir “muito europeísmo em Portugal, país que já demonstrou que sabe ir em frente, depois da crise de 2008”. Mesmo assim, tem esperança na superação e na afirmação da liderança europeia, tendo em conta os desafios já superados. “A Europa já viveu momentos difíceis, grandes eventos como as migrações, as crises financeiras, o terrorismo internacional – que exigiu a partilha de informação – e, por último, o Brexit”, recordou.
Influenciados ou não pelo sentimento de pertença na União Europeia, “Espanha e Portugal modernizaram-se. Ganhámos auto-confiança e não devemos nada aos outros e isso refletiu-se no desporto”, apontou Vicente Del Bosque, não fugindo ao debate do momento: considerou ser importante que a prática do futebol não páre, mesmo que “com a ausência de público”, e elogiou a Alemanha, pelo exemplo que deu na retoma da modalidade, em tempo de pandemia.
No debate, que contou com centenas de visualizações, o Governador do Distrito 1970, Sérgio Almeida, vincou que para liderar “nunca devemos abdicar dos nossos valores”.
Na sessão estiveram, entre outros, Miguel Angel Taus e Sérgio Aragon, coordenadores de Rotary International.
O Rotary Talks tem como parceiros a Católica Porto Business School, Fundação AEP e a Fundação Manuel António da Mota e tem transmissão no facebook do Distrito 1970 e no Zoom.