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“Acredito muito na continuidade e não vejo cada ano isolado dos demais”, diz Gordon McInally sobre o Rotary

O presidente eleito do Rotary para o ano 2023/2024, Gordon McInally, foi respondendo a várias questões sobre o próximo ano rotário e quando quiser questionar o presidente eleito sobre o seu ano como presidente do Rotary International, ele o corrigirá imediatamente:

“Não é o meu ano que importa. O importante é como será este ano no Rotary. Acredito muito na continuidade e não vejo cada ano isolado dos demais”.

Em outubro, Gordon reuniu-se com seis membros da equipa de comunicação do Rotary para responder a perguntas feitas por companheiros de todo o mundo nas redes sociais. Brincalhão e com um senso de humor rápido, ele encheu a sala de risos enquanto uma equipa de filmagem instalava microfones, câmaras e luzes. Ao se apresentar como companheiro do Rotary Club de South Queensferry, na Escócia, ele brincou sobre a sua forma inconfundível de falar: “Apesar da falta de sotaque, sou escocês e tenho muito orgulho disso”.

O sangue escocês de Gordon fica evidente no seu escritório, onde uma pintura de uma paisagem colorida do artista escocês John Lowrie Morrison adorna uma parede. A Escócia nem sempre é tão melancólica quanto costuma ser retratada, comenta ele. “Às vezes, é um lugar bem alegre.” Na verdade, existem muitos estereótipos sobre a Escócia que Gordon está a tentar superar. “O tartã, aquele padrão xadrez, é muito tradicional, muito estereotipado”, afirma. A sua gravata presidencial foi inspirada nas cores claras usadas por Morrison, o seu artista favorito, junto com as cores de uma concha da Tailândia que lhe serviu de inspiração para o seu lema presidencial. Entre outras curiosidades encontradas no escritório de Gordon está uma representação gigante de papelão da sua cabeça, que ele recebeu depois de um Instituto Rotary em Minneapolis. Os visitantes adoram tirar selfies com ela para partilhar nas redes sociais. A rir afirma que: “acho que eles entendem melhor a cabeça do que a mim”.

Gordon entrou para o clube de South Queensferry quando tinha 26 anos. Ele e a sua esposa, Heather, haviam-se casado recentemente e queriam criar raízes nas imediações de Edimburgo. O dono de uma quinta que eles haviam conhecido convidou-os para um evento social do Rotary e, depois, para algumas reuniões. Antes que Gordon percebesse, ele já estava em vias de se associar ao Rotary. (Heather McInally também é associada do Rotary, pertencente ao clube satélite de Borderlands do Rotary Club de Selkirk.) “Eu não conseguia entender como um dentista a trabalhar sozinho em Edimburgo poderia fazer uma grande diferença no mundo”, lembra Gordon. “Mas logo percebi que, fazendo parte do Rotary, isso seria possível. E, de fato, foi.”

No ano rotário de 2023-24, Gordon dará atenção especial à saúde mental, um problema que já afetou a sua família diretamente e que muitas vezes é mantido em segredo. Gordon é embaixador da Bipolar UK, uma organização que apoia pessoas com transtorno bipolar, bem como as suas famílias e cuidadores. Recentemente, o Rotary International na Grã-Bretanha e Irlanda lançou uma parceria com a organização no intuito de aproveitar as habilidades dos companheiros para ajudar a construir uma rede mais robusta de grupos de apoio em todo o país. “Acredito muito em usar as habilidades dos associados do Rotary, em vez de apenas os seus talões de cheque”, explica.

Quais são os seus valores e como eles moldam a forma como lidera?

Natarajan Sundaresan, Rotary Club de Koothapakkam, Índia

O meu principal valor pode ser expresso em uma só palavra: zelo. Acredito que zelo pelas pessoas. Profissionalmente, como dentista, zelei pelas pessoas por muitos e muitos anos. É algo que me foi ensinado pelos meus pais. É algo que ensinamos aos nossos próprios filhos. E o melhor de tudo é que agora vejo isso sendo ensinado aos nossos netos. Acho que, se houvesse mais zelo e mais gentileza no mundo, ele seria bem mais feliz e pacífico. A paz é uma das questões que eu, particularmente, quero que avancemos.

Como podemos motivar os companheiros do Rotary que parecem ter “perdido o brilho nos olhos”?

Jannine e Paul Birtwistle, Rotary Club de Guernsey, Ilhas do Canal

Conheço Jannine e Paul muito bem, e é muito bom receber uma pergunta deles. Acho que a maneira de recuperar o “brilho nos olhos” de alguns companheiros é garantir que a experiência no Rotary Club seja a melhor possível e adequada a todos. O Rotary não pode ser igual para todos. Alguns clubes preferem-se reunir num clube de campo e passar duas horas e meia a almoçar. Outros preferem reunir-se por 45 minutos na manhã de sábado para um pequeno-almoço e depois fazer trabalho voluntário juntos.

Tudo se resume à prestação de serviços humanitários. Somos uma organização de associados e de serviços humanitários. Não podemos ser só uma das coisas ou só a outra. Precisamos estar presentes em projetos humanitários, não só porque isso enriquecerá a nossa experiência, mas também porque mais gente ficará interessada em se juntar a nós depois de verem os frutos do nosso trabalho.

Quais os planos concretos do Rotary para combater as mudanças climáticas em 2023-24?

Abdur Rahman, Rotary Club de Secunderabad, Índia

Um dos grandes projetos em que estamos a trabalhar no momento é o plantio de manguezais em vários lugares do mundo, e existem muitos outros na lista. Devemos lembrar que o Rotary sozinho não conseguirá resolver o problema das mudanças climáticas. Precisamos trabalhar no nível em que somos capazes de trabalhar, além de incentivar e pressionar os governos de todo o mundo a garantir que enfrentemos a questão das mudanças climáticas no futuro.

Como motivar mais membros do Rotaract a se associarem a Rotary Clubs?

Dale Kerns, Rotary Club de North East, EUA

Precisamos trazê-los para os Rotary Clubs como rotaractistas e permitir que nos ajudem a moldar o futuro do clube. Falamos muito sobre mentoria. Mas também há mentoria reversa. Temos muito a aprender com os rotaractistas. Hong Kong é um dos lugares mais bem-sucedidos do mundo na integração de rotaractistas ao Rotary. A transição do Rotaract ao Rotary é harmoniosa. Como resultado, quase não há divisão. Eles têm uma maneira maravilhosa de integrar o Rotaract e o Rotary. Ambos os lados ganham muito com isso. As pessoas dizem que o Rotaract é o futuro do Rotary, mas na verdade ele é o presente.

Quais os programas pró-juventude são importantes para si?

Lindy Beatie, Rotary Club de Penn Valley, EUA

Sou um grande fã do RYLA. Temos visto RYLA’s muito bem-sucedidos na nossa região. Quando leva um aluno do ensino secundário com potencial para uma experiência do RYLA, a mudança que pode ocorrer é incrível. É comum encontrar jovens introvertidos e tímidos no começo do evento RYLA, para no final ficarem mais soltos atingirem um tremendo progresso. É importante mandarmos pessoas com potencial para viverem a experiência do RYLA — não apenas aquelas que já voam alto porque, para essas, o sucesso virá de qualquer maneira. Devemos escolher pessoas que tenhamos o potencial de desenvolver.

Também acredito muito no Intercâmbio de Jovens. Estou muito feliz por estarmos em condições de reativar o programa de Intercâmbio de Jovens. Nas últimas semanas, vi jovens viajando por todo o mundo para o que será uma experiência transformadora. Isso traz-nos de volta para a questão de criar um mundo mais pacífico. Ao propiciarmos aos jovens a oportunidade de conhecer gente da sua faixa etária enquanto fazem a imersão em outras culturas por um ano, veremos que, no fundo, somos todos semelhantes. Não há necessidade de conflitos, pois estamos todos tentando chegar ao mesmo destino e desejamos as mesmas coisas.

O Rotary continua a criar novas parcerias e a lançar novos projetos. Como podemos garantir a continuidade quando um novo presidente toma posse?

Marissa De Luna, Rotary Club de Sweetwater San Diego, EUA

Quando falo sobre continuidade, não me refiro apenas a fazer as mesmas coisas ano após ano. Refiro-me a um processo de avançar continuamente, de melhorar continuamente. Para isso, precisamos analisar diferentes projetos e diferentes iniciativas, pois a cada momento temos que atender a diferentes necessidades e diferentes procuras. Portanto, acho que as duas coisas não são mutuamente exclusivas. Acho que podemos participar de novos projetos e pensar em fazer coisas novas. Mas ainda podemos praticar a continuidade, procurando avançar a longo prazo sem nos apressarmos para concluir as coisas durante um único mandato presidencial.

Qual é o maior potencial que vê no Rotary, enquanto organização, que ainda não foi totalmente concretizado?

Claudia Arizmendi, Rotary Club de Hermosillo Milenio, México

Vimos um grande aumento no voluntariado durante a pandemia. Acho que temos uma grande oportunidade de nos conectarmos com essas pessoas e incentivá-las a continuar esse trabalho voluntário através do Rotary. Acredito que seja da natureza de todos zelar pelo próximo. Se pudermos acender essa chama nas pessoas e aproveitar o espírito de zelar que vimos durante a pandemia, deixaremos um legado maravilhoso. Cerca de 6,5 milhões de pessoas morreram como resultado da covid em todo o mundo, e precisamos garantir que a partida deles não foi em vão. Será uma conquista e tanto se pudermos nos conectar com as pessoas que reacenderam seu espírito de voluntariado durante a pandemia.


Não se pode reunir um grupo de jornalistas sem lhes dar a oportunidade de fazer algumas perguntas. Veja o que os editores da revista Rotary perguntaram:

Fale-nos um pouco sobre seu lema presidencial.

O lema será Crie Esperança no Mundo. Acredito muito que tudo começa com a esperança. Quando estava na Tailândia para inaugurar oficialmente um lugar que o Rotary International na Grã-Bretanha e Irlanda tinha construído após o tsunami de 2004 no Oceano Índico, eu conheci uma senhora. Ela parecia ter uns 70 ou 80 anos de idade, mas acabei por saber que tinha apenas cerca de 50 anos. Ela havia perdido tudo no tsunami e a sua casa tinha sido destruída. Quando entrei na sua nova moradia, notei que não havia nada lá. Era um novo lar, mas ela havia perdido tudo. Apesar disso, ela insistiu que eu levasse uma concha que ela havia guardado por mais de 30 anos. Ela me disse: “Eu perdi tudo, inclusive a esperança. Mas o Rotary deu-me uma nova esperança para continuar”. E eu guardo essa concha até hoje. Se as pessoas não tiverem esperança, elas nunca serão capazes de seguir em frente. O lema é um chamado à ação: Crie Esperança no Mundo.

Quais são as suas prioridades?

Em termos de continuidade, queremos continuar empoderando meninas e mulheres. Além disso, vamos incentivar as pessoas a fazer intercâmbios virtuais. Assim, estabeleceremos uma base mais ampla para a consolidação da paz. Cessar as guerras não é suficiente; precisamos impedir que elas aconteçam. Prevenir é melhor do que remediar. Quase todas as nossas áreas de enfoque têm potencial para fazer isso.

A terceira prioridade é uma iniciativa de saúde mental. Como resultado da pandemia, há muitas pessoas que enfrentam problemas de saúde mental. Acredito que essa seja a próxima pandemia. Tenho experiência com amigos que enfrentaram problemas do tipo. Na verdade, acho que todos nós já sofremos com problemas de saúde mental em algumas ocasiões. O Rotary precisa ser capaz e corajoso o bastante para entrar nesse espaço e começar o diálogo de onde e como podemos fazer a diferença. No nível mais básico, basta abrir espaço para o diálogo sobre saúde mental e ajudar as pessoas a ter acesso a qualquer ajuda profissional de que possam precisar para, em seguida, apoiá-las nessa jornada.

O meu irmão cometeu suicídio. Isso ainda me causa muita dor. Estou a falar disto, não por querer a compaixão das pessoas, mas sim para fazê-las perceber que todos são afetados por esse tipo de problema. Não posso varrer isso para debaixo do tapete. Como uma rede global de 1,4 milhões de pessoas, temos a oportunidade de fazer a diferença para diminuir o estigma e o tabu que envolvem a saúde mental.

Serviu também como presidente do Rotary International na Grã-Bretanha e Irlanda. O que aprendeu com essa experiência que trará para essa função?

Aprendi a dormir em camas diferentes a cada dois ou três dias. Viajei muito durante aquele ano pela Grã-Bretanha e Irlanda. Aprendi que todos os Rotary Clubs são diferentes e que todas as pessoas têm interesses diferentes. Nem todo mundo é tão apaixonado quanto eu. Às vezes, sinto-me um pouco fanático. Mas todo o mundo tem algo especial. E o segredo é aproveitar os interesses das pessoas e oferecer as condições para que possam fazer o que desejam. Isso também se aplica à admissão de novos companheiros. Não admitimos novos companheiros e depois dizemos a eles o que precisam fazer. Admitimos novos companheiros e perguntamos o que o Rotary pode fazer por eles.

É dentista. Se fosse um dente, qual seria?

Eu provavelmente seria um incisivo, por ser o primeiro dente que entra em ação. Ao comer, não empurramos nada direto para o fundo da boca. Começamos a mastigar com os incisivos, e gosto de imaginar que sou uma pessoa que toma a frente das coisas. Assin, um incisivo não é mais importante do que nenhum outro dente. Todos são igualmente importantes para ingerirmos os alimentos da forma certa.

Reportagem adaptada de rotary.org