Rotary International

Um imigrante encontra pertença no Rotary

Longe de casa e gravemente ferido, um jovem encontra conforto e um novo propósito na sua família rotária

Por Andrés Briceño

“¿Dónde estoy?” – “Onde estou?”, pensei, enquanto regressava ao mundo, tudo era luz branca, manchas de cor e sons abafados. Os meus lábios estavam secos. “¡Água! ¡Água!”, pedi água. Tentei levantar-me, mas a minha mãe disse-me para ficar quieto. Estava no hospital. Aquelas manchas de cor eram balões. Tinha havido um acidente, o meu jipe contra uma árvore. A árvore ganhou. Estive em coma durante duas semanas.

Tentei recordar-me. Lembro-me de estar a conduzir para casa depois de um longo turno no restaurante onde trabalhava. Depois… nada: nem acidente, nem árvore, nem ambulância. Nenhuma das três grandes cirurgias: uma para perfurar o crânio e aliviar a pressão no cérebro, outra para reparar a anca esquerda fraturada, e uma terceira para a clavícula direita partida. Os médicos disseram que tive sorte por estar em coma apenas duas semanas. Poderia ter sido meses. Ou podia nunca ter acordado.

A minha história

Chamo-me Andrés Briceño. Nasci na Venezuela, mas vivo no Texas. Emigrei para os Estados Unidos em novembro de 2021, aos 23 anos. Instalei-me em The Woodlands, a norte de Houston, onde vivem uma tia e alguns primos. Mas também pertencia a uma família maior, internacional, o Rotary, do qual já fazia parte na Venezuela, como membro do Rotary Club de Las Delicias e do Rotaract Club de Las Delicias Leone Rossi.

Sempre que vejo que algo está mal, quero mudá-lo. O meu sonho era ver o meu país livre, mas libertar um país não é fácil. Quando se defende a liberdade sob uma ditadura, tornamo-nos um alvo. E, no fim, tive de partir.

Um novo clube

Quando cheguei ao Texas, entrei em contacto com o Rotary Club de The Woodlands, o que mudou por completo a minha experiência enquanto imigrante. Um mês depois da minha chegada aos EUA, fui convidado para a festa de Natal do clube. Estava longe da Venezuela, mas os membros do clube fizeram-me sentir em casa, como se pertencesse àquela comunidade, foi algo muito valioso: ser aceite, sentir que pertencia.

O acidente aconteceu a 25 de junho de 2023, um domingo. No sábado anterior, fazia apenas três dias desde a formalização do Rotaract Club de The Woodlands, que ajudei a fundar. Acordei cedo. Estava um dia quente de verão. O nosso clube estava a apoiar o Rotary Club de The Woodlands num evento para jovens, numa espécie de caça ao tesouro com pistas escondidas. Depois fui diretamente trabalhar. O sábado é o dia mais movimentado da semana no restaurante, e só saí de lá já depois da meia-noite e a apenas cinco minutos da casa da minha tia, aconteceu o acidente.

Estive 33 dias internado no hospital. Durante a primeira semana, ninguém sabia se eu iria sobreviver. A minha mãe nunca perdeu a esperança, e os membros do Rotary estiveram sempre ao seu lado, a apoiá-la e a fazer-lhe companhia. Kay Boehm-Fannin, presidente do Rotary Club de The Woodlands (2023-24), visitava-me todos os dias no hospital. Todos os dias, mesmo quando eu estava inconsciente. Outros membros do clube esperavam na sala de entrada pela sua vez para me ver.

Quando finalmente acordei, uma enfermeira perguntou-me: “És famoso?” Respondi: “Ainda não. Porquê?” Ela disse: “Tiveste tantos visitantes todos os dias. Isso não é normal.” Senti-me profundamente amado.

A minha mãe também. O meu querido amigo Dr. Lucian Rivela, membro do clube, acompanhava o meu estado de saúde junto dos médicos e informava a minha mãe, que não fala inglês. No dia em que saí do coma, era o aniversário dela, a minha família rotária organizou-lhe uma pequena festa na sala de espera da UCI.

O caminho da recuperação

Quatro dias depois de receber alta, participei num evento Rotary After Hours, e dois dias depois estive numa reunião do clube. Não aguentava continuar longe da minha família rotária. Sentia uma enorme necessidade de agradecer, e assim o fiz, com lágrimas nos olhos.

Logo percebi que as pequenas coisas do dia a dia iriam mudar: usar a casa de banho, subir escadas, tinha de me sentar e usar os braços, pois as pernas não ajudavam. Tentei voltar demasiado depressa à normalidade. Não percebia bem a gravidade da situação. Aprendi que, às vezes, não se pode forçar. É preciso ir passo a passo.

E a cada passo, o Rotary esteve ao meu lado, mesmo antes de conseguir dar passos. Estive meses numa cadeira de rodas. A minha família rotária forneceu a cadeira, o andarilho e depois a bengala. Chegaram mesmo a organizar uma angariação de fundos para me ajudar a pagar as sessões de fisioterapia.

Durante esse período, tive dois excelentes fisioterapeutas, Stephanie e David, numa clínica da área de Houston. A Stephanie tinha sido Interactiana no secundário e mais tarde bolseira do Rotary no Reino Unido. Essa experiência inspirou-a a regressar aos EUA e tirar o doutoramento em fisioterapia.

Tornamo-nos amigos graças a essa ligação rotária, e convidei-a para me acompanhar ao baile de gala do Rotary Club de The Woodlands, em fevereiro de 2024. Nesse dia, decidi deixar a bengala em casa. Pela primeira vez em meses, caminhei livremente. E nessa noite, no meio da minha família rotária, Stephanie e eu dançamos.

Uma segunda oportunidade

Com a sensação de ter recebido uma segunda oportunidade na vida, regressei à universidade este ano. Estou a estudar Ciência Política e espero tirar um mestrado em Economia. Quero preparar-me para um dia regressar à Venezuela e ajudar a reconstruir o meu país. Até lá, procuro trabalho numa organização sem fins lucrativos nos EUA. O meu emprego de sonho seria ajudar os outros, como sempre procurei fazer desde que pertenço ao Rotary.

Andrés Briceño é membro fundador e presidente do Rotaract Club de The Woodlands, no Texas.

Ilustração de Hokyoung Kim.

Esta história foi originalmente publicada na edição de abril de 2025 da revista Rotary.