Rotary International

Um caminho para a autossuficiência

Pessoas com deficiências intelectuais encontram emprego através de um programa inovador.

Por Etelka Lehoczky

A maioria dos locais de trabalho tem um funcionário como Peter Lee. O seu cargo pode ser assistente administrativo, mas o mais correto seria dizer que ele é o “faz-tudo”.

“Faço um pouco de tudo. Quando há um problema com a impressora, as pessoas vêm ter comigo”, conta Lee, que trabalha na filial da multinacional de consultoria de seguros NFP, em Edmonton, na província de Alberta, no Canadá.

“Ele é basicamente o Sr. Resolve-Tudo”, acrescenta o rotário Andre Charrois. Contratou Lee através de uma colaboração entre o Rotary e a organização local sem fins lucrativos Inclusion Alberta, que apoia pessoas com deficiências intelectuais.

“O Peter ajuda com as fotocopiadoras e sabe onde está tudo na sala de material”, diz Charrois, membro do Rotary Club de St. Albert, no Canadá. “Ninguém gosta quando ele tira férias, porque têm de resolver tudo sozinhos.”

Lee é um dos muitos habitantes de Alberta com deficiência intelectual que encontraram um trabalho gratificante com o apoio da Inclusion Alberta e do Rotary. Há mais de duas décadas que a aliança entre estas duas organizações tem aproveitado ao máximo as vastas redes de contactos dos membros do Rotary na comunidade empresarial. Os associados promovem os benefícios da inclusão de pessoas com deficiências intelectuais e facilitam o processo de contratação. A iniciativa já ajudou a preencher cerca de 900 vagas.

No Canadá, a organização sem fins lucrativos Inclusion Alberta faz conexões entre pessoas com deficiências intelectuais e empresas locais com vagas a serem preenchidas. 2024. 
Foto: Wendy McDonald
Membros do Rotary dos Distritos 5360 e 5370 colaboraram com a Inclusion Alberta para ampliar as oportunidades de emprego para pessoas com deficiências intelectuais. 2024.
Foto: Wendy McDonald

“O que o Rotary oferece é a força da nossa rede de contactos. Isso tem sido fundamental”, destaca Wendy McDonald, membro do Rotary Club de Edmonton Sunrise, no Canadá, e diretora de operações da Inclusion Alberta. “A força do Rotary está na capacidade de abrir portas que, de outra forma, não existiriam.”

A taxa de desemprego entre pessoas com deficiências intelectuais atinge os 70% no Canadá, segundo a Inclusion Alberta. Nos Estados Unidos, ultrapassa os 75%, de acordo com o Bureau de Estatísticas Laborais dos EUA. Mas McDonald afirma que não há razão para que esta realidade se mantenha.

Ela destaca a vasta gama de áreas em que os participantes do programa trabalham, desde funções administrativas e atendimento ao cliente até construção civil e indústria transformadora. “O benefício de contratar alguém com deficiência intelectual é significativo”, afirma McDonald.

Os líderes empresariais que se mostram céticos quanto à contratação de pessoas com deficiências intelectuais são, na maioria das vezes, mal informados, e não deliberadamente preconceituosos, diz Ken Masson, que ajudou a fundar o Rotary Club de World Disability Advocacy em 2021. Passou uma década a trabalhar numa agência de serviços sociais em Massachusetts, nos EUA, que ajudava pessoas com deficiência a encontrar emprego.

“Na maioria das situações, não se trata de discriminação. Penso que é apenas falta de conhecimento”, explica. “As pessoas diziam: ‘Deixe-me pensar nisso’ ou ‘Vamos trazer alguém e ver como corre’. Tive vários casos em que mudaram completamente de atitude.”

Charrois ouviu várias objeções quando falou pela primeira vez com os seus colegas sobre a contratação de Lee. Estavam preocupados com as funções que Lee iria desempenhar e com o tipo de supervisão que ele exigiria. Mas, uma vez tomada a decisão, o apoio à integração prestado pela Inclusion Alberta facilitou bastante o processo.

“A equipa da Inclusion Alberta veio à empresa sem o Peter e explicou à nossa equipa o que esperar dele, quais os seus desafios e assim por diante”, recorda Charrois. “Assim que terminaram, recebi cerca de 10 e-mails a dizer: ‘Isto é algo muito especial que estamos a fazer como empresa. É nesta empresa que quero trabalhar’.”

A equipa da Inclusion Alberta e os voluntários do Rotary também intervêm nas fases iniciais do processo de contratação. Os representantes da Inclusion Alberta podem visitar os locais de trabalho de potenciais empregadores para identificar departamentos que poderiam beneficiar de apoio adicional. Os membros do Rotary atuam como coordenadores de emprego e analisam as descrições de funções para avaliar se uma determinada vaga pode ser preenchida por uma das pessoas que representam. Por vezes, é possível adaptar a função às competências do candidato.

Embora existam programas de emprego semelhantes noutras partes do mundo, esta iniciativa apresenta uma relação custo-benefício particularmente vantajosa, afirma Bruce Uditsky, ex-diretor executivo da Inclusion Alberta. Tal deve-se ao excelente aproveitamento dos voluntários do Rotary.

“Hoje em dia, muitos empregos são conseguidos através do pagamento a profissionais da área da deficiência para que encontrem oportunidades. No nosso caso, são os rotários que providenciam os empregos, identificam as vagas e criam a oportunidade para uma conversa”, explica Uditsky, membro do Rotary Club de Edmonton Sunrise, que liderou a Inclusion Alberta durante 25 anos. “Isto envolve rotários que querem ter um impacto direto nas suas comunidades e fazer a diferença na vida de alguém, de uma forma que está alinhada com os valores fundadores do Rotary.”

Para Lee, o programa foi verdadeiramente transformador. Em parte, porque o trabalho na NFP acabou por ser muito diferente do seu objetivo inicial de ter uma cafetaria própria. Além disso, sente-se apoiado na sua função.

“Sempre que tenho dúvidas, posso contactar alguém da Inclusion Alberta ou do Rotary Club. Estão sempre disponíveis para conversar comigo e encontrar soluções para qualquer problema”, partilha. “Sempre foram muito prestáveis ao longo de todo o percurso.”

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— Outubro de 2025