Tragédia pessoal transforma homem que recusou vacina da poliomielite em defensor da causa
O meu nome é Lalgul e sou pai de Ghafar. Vivemos no sudeste do Afeganistão. Eu estava fora de casa quando o meu filho adoeceu. Quando regressei, encontrei Ghafar, tinha então um ano e meio, paralisado.
Tudo começou com uma febre alta, pouco depois a perna direita ficou paralisada. Eu e a minha mulher levámo-lo ao hospital, onde foi submetido a vários tratamentos, mas não recuperou. Sou agricultor e não tinha dinheiro suficiente para levar o meu filho a Cabul para tratamentos adicionais. Os médicos diagnosticaram-lhe poliomielite e disseram-me que este vírus não tinha cura. Assim, deixámos de procurar os médicos e o meu filho ficou em casa.
Tenho sete filhos – o Ghafar é o quarto. Criar uma criança paralisada pela poliomielite é difícil. Temos de cuidar dele constantemente. Com uma perna paralisada, estamos sempre atentos para que caia. O Ghafar está agora no primeiro ano de escolaridade, ir para a escola às vezes é um desafio, especialmente nos dias de neve e chuva, quando ele luta para andar pela lama com as muletas. Sinto-me sempre triste quando vejo o meu filho incapaz de andar enquanto os meus outros conseguem. Dói quando as pessoas fazem perguntas sobre a condição do Ghafar, principalmente quando me perguntam porque não vacinei o meu filho.
Preocupo-me com o futuro dele e como vai enfrentar os desafios da vida. Às vezes, chega da escola e diz-me que as crianças andam a gozar com ele, que o chamam de ‘paralítico’. Quando lhe peço para fazer certas tarefas em casa, tem dificuldades. Às vezes, desiste e diz-me que não consegue, ‘porque sou aleijado’.
Incentivo sempre o Ghafar a continuar a ir à escola. Quero vê-lo ir para a universidade e concluir os seus estudos. Como ele está paralisado e não pode fazer trabalho físico, como eu, quero que o Ghafar se torne um homem com formação, tenha um salário e ganhe dinheiro com o seu conhecimento.
O meu conselho para os pais que cuidam de uma criança com poliomielite é que sejam bondosos e compreensivos, que satisfaçam as necessidades do seu filho e eduquem os irmãos para serem também compreensivos.
Eu não vacinei o meu filho durante as campanhas de vacinação contra a poliomielite, nem quando a vacina estava disponível na clínica. Depois de a poliomielite ter paralisado o Ghafar, percebi a importância de vacinar os filhos contra esta terrível doença. Agora faço-o, com os outros filhos, assim que posso.
Passei a falar com as pessoas na nossa aldeia, principalmente com aquelas que recusam a vacina, e explico-lhes a sua importância contra a poliomielite. Digo-lhes que, se não vacinarem os seus filhos, eles poderão ficar paralisados, como o Ghafar.
Publicado em Vozes do Rotary.
Artigo publicado originalmente no website da Organização Mundial de Saúde – Região do Leste do Mediterrâneo, do qual foi traduzido.
Para mais informações sobre a poliomielite e a campanha do Rotary para erradicar essa doença, visite endpolio.org.